É bem comum em conversas cotidianas, diante da explicação de como algo funciona no exterior alguém questionar que tal sistema dá brecha para que se possa sair sem pagar. Isso tem me incomodado ultimamente. E mais ainda quando eu mesmo tenho estes tipos de pensamentos, apesar de me vigiar quanto a isso.
É como se nossa sociedade estivesse sempre pensando em obter vantagens em tudo, como se a Lei de Gérson tivesse sido realmente promulgada.
A melhor resposta nestas situações é perguntar por que alguém faria isso ou por que alguém não pagaria pelo que consumiu.
No restaurante em que almoço quase todos os dias, há um ótimo sistema automatizado para pagamentos, onde carrega-se um cartão pré-pago e no momento de pagamento dirige-se a um terminal para passar o cartão com o consumo e em seguida o cartão pré-pago para debitar do saldo. Tudo muito rápido e prático. Há alguns meses, o sistema de pagamento incluiu uma funcionário para verificar se o cartão de consumo está realmente zerado, porque algumas pessoas dirigiam-se ao caixa de autoatendimento e não efetuavam o pagamento. E dá uma vergonha ter que mostrar o cartão de consumo na saída.
Em conversa com amigos, um deles mencionou como conseguia pagar mais barato em uma compra feita em dólar em um grande site chinês. A princípio não entendi sobre o que ele estava falando. Ele então explicou que opta pelo pagamento por boleto e o valor da compra é convertido pela cotação do dia para que o boleto seja emitido em reais. No dia do vencimento ele emite outro boleto, que é novamente convertido pela cotação do dia. Ele então paga o que for mais barato. Eu disse que isso era possível porque quem elaborou o sistema de pagamento por boleto, que provavelmente não existe na China, não pensou na possibilidade de alguém usar a reemissão do boleto para pagar mais barato. Embora neste caso o site chinês não tenha prejuízo pois receberá o valor em dólar acertado quando a compra foi fechada, serve para ilustrar a capacidade da nossa engenhosidade.
A conversa partiu então para um tom de brincadeira onde concluímos que toda equipe dos sites e aplicativos mais famosos do mundo precisam ter pelo menos um membro brasileiro para que possa validar se o sistema tem brechas para serem burlados. Caso não tenha tais brechas recebe o selo “À Prova de Brasileiro”. Este selo emitido pelo membro brasileiro da equipe, é claro.
Voltando ao tom sério que o tema pede, está na hora de começarmos a mudar este mindset, começando por nós mesmo, não levantando meios de burlar algum sistema ou questionando o interlocutor com a pergunta “Por que alguém faria isso?”. Assim, quem sabe daqui alguns anos o selo “à prova de brasileiros” não seja mais necessário.