“A educação prospera mais quando é procurada”. (José Monir Nasser)
Olá amigo! O que vem a seguir é meu resumo sobre essa maravilha que estou lendo, que se chama Trivium (Gramática, Lógica e Retórica), de autoria da Irmã Miriam Joseph (1898–1982) lançado pela editora É Realizações Trivium (Irmã Miriam Joseph). Calma, não é o resumo do livro todo, isso hei de fazer em textos vindouros. O que trago a vocês é o meu resumo sobre o prólogo e prefácio do referido livro além de alguns pitacos e algumas histórias que se encaixarão no contexto do livro.
O livro é bastante denso, apesar de não ser tão grande, essa edição que tenho em mãos da editora É Realizações têm 328 páginas, e tanto o prólogo quanto o prefácio, contam um pouco da história da autora e do contexto em que o livro foi escrito, e nos introduzem ao mundo das Sete Artes Liberais e ao mundo da, infelizmente “derrotada”, mas não morta Educação Clássica. Logo, ambos são essenciais para o entendimento do conteúdo da obra.
O prólogo foi escrito pelo professor Carlos Nougué (Biografia Carlos Nougué) que, entre outras obras, escreveu o também excelente livro Suma Gramatical da Língua Portuguesa. O prefácio foi escrito por José Monir Nasser (1957–2013) José Monir Nasser.
INTRODUÇÃO AO TRIVIUM
O Trivium (Gramática, Retórica e Dialética ou Lógica) compõe junto com o Quadrivium (Aritmética, Geometria, Música e Astronomia) as Sete Artes Liberais da Idade Média, o conjunto de estudos que antecedia o ingresso na Universidade. Nasceu em Alexandria no século II e por volta do ano 800, sob o império de Carlos Magno, tomou a forma atual. Tem referências pitagóricas e influências platônicas. Na definição da autora, o Trivium inclui aspectos das Artes Liberais ligados à mente e o Quadrivium inclui aspectos das Artes Liberais ligados à matéria.
A atual versão, além da sua pedagogia, foi atualizada e teve seu material revisado com base nas obras de São Tomás de Aquino e, principalmente, nas obras de Aristóteles. Podemos dizer que o Trivium foi a base educacional para a cristandade. A escolástica, também foi construída sobre a base do Trivium, ficando assim:
Gramática — Zela para que todos possam se comunicar de forma clara e inteligível;
Dialética ou Lógica (passou a se chamar Lógica após a tradução das obras aristotélicas) — Problematiza o objeto da discussão (Disputatio¹).
Lógica — Antídoto certo contra a verborragia vazia (Fumus Sine Flamma²).
O Trivium fazia parte de um projeto de educação e não temos nada parecido com isso hoje em dia, não no ensino formal. O estudante das Sete Artes Liberais começava aos 14 anos, tinha um regime de estudo flexível com liberdade. Em primeiro lugar, tinha que vencer os 3 Caminhos do Trivium, descritos por Pedro Abelardo como os 3 componentes da ciência da linguagem, para depois ingressar no ensino superior. O ensino superior liberal se resumia a Teologia, Direito Canônico e Medicina.
O ensino do Trivium começou a ruir durante o século XIV e foi praticamente dizimado, deixado de lado no Renascimento, com o crescimento do “Humanismo”. Um dos “culpados” por erradicar o ensino do Trivium na época foi o Teólogo tcheco Jean Amos Comenius (1592–1670). Entre outras coisas, Comenius criou o Jardim da Infância. A UNESCO homenageia Comenius com sua maior condecoração.
*História muito parecida com a extinção da escola dos Jesuítas em Portugal, no século XVIII. Os jesuítas utilizavam um sistema de ensino parecido com o Trivium, onde eles estudavam as obras de Aristóteles, obras de São Tomás de Aquino e estudavam a Bíblia. Os jesuítas foram “excluídos” do ensino formal e da Universidade de Coimbra pelo Marquês de Pombal. Pombal era adepto do cientificismo, do positivismo e do iluminismo francês. Bebeu das fontes de Augusto Comte, da Enciclopédia editada por Diderot e que teve como colaboradores Rousseau e Voltaire. Ele remodelou ou, nas palavras dele, modernizou o sistema de ensino de Portugal com sua visão ideológica. Sua justificativa para tal ação foi dizer que o ensino dos Jesuítas estava atrasado e cada vez mais distante dos “métodos de investigação e raciocínio” e da ciência moderna. Pombal conseguiu retirar dos Jesuítas a possibilidade de ensinar e também os excluiu de Portugal e de suas colônias. Pombal demonizou os Jesuítas.
Pedagogia moderna segundo o tcheco Jean Amos Comenius: arte universal, ensino rápido, resultado infalível, generosidade de coração, massificação do ensino, insensibilidade às individualidades, tudo estabelecido a priori: é o flatus vocis³ sofístico, que conhecemos como relativismo.
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Comparações entre o sistema de Ensino das Artes Liberais e sistema de Ensino Moderno
a) Artes Liberais: Buscava e ordenava-se à Verdade e sua complexidade;
a) Ensino Moderno: Formação básica, simples, busca formar um profissional (ensino mais técnico);
b) Artes Liberais: O jovem medieval estudava as Sete Artes Liberais se quisesse e/ou pudesse e se capacitava para a Sabedoria adquirida nas Universidades;
b) Ensino Moderno: O jovem ou a criança são obrigados a fazerem o primário e secundário, não tem capacidade intelectual e acadêmica, no máximo busca ocupar uma boa posição na escala socioeconômica (conseguir um bom emprego, talvez um cargo público via concurso);
c) Artes Liberais: O jovem medieval buscava algo superior a ele;
c) Ensino Moderno: O jovem atual é ego centrista;
d) Artes Liberais: Tivemos grandes pensadores, sábios e filósofos;
d) Ensino Moderno: Hoje temos somente os “especialistas” de Facebook, onde ninguém se aprofunda em tema algum e tampouco é instigado a tal.
Diz José Monir Nasser:
“Se a miséria do ensino moderno tem pai, o seu nome é Comenius”.
A ideia da educação moderna é entendida como adestramento coletivo de modismos politicamente corretos, a tal “escola cidadã”. Nosso sistema de ensino atual é voltado para a produção de documentos e títulos (diplomas, certificados, etc…) e não para a produção do conhecimento, do saber, da educação propriamente dita. Nos tempos medievais, a educação consistia em tirar o sujeito da gaiola e apresentar-lhe ao mundo. Hoje nós temos uma educação “mecânica”, disposta a produzir somente alunos capazes de conseguirem um bom grau em avaliações como o ENEM. Nosso sistema de ensino atual é, simplificando o termo, raso intelectualmente e no caso do Brasil, e de alguns outros países, ainda sofre com a doutrinação marxista. Mas a doutrinação no Ensino Moderno é assunto para outro dia.
Espero que essa introdução tenha trazido a você o interesse pela Educação Clássica, e que procure o livro Trivium e o leia, para compreendê-lo melhor.
Aceito sua sugestão, sua crítica e suas novas ideias, correções também.
Obrigado por ler!!!
Obs.: As imagens foram gentilmente cedidas pelo meu grande amigo Rafael Medeiros. Sigam essa fera das fotos no Instagram http://instagram.com/mederafael.
Índice:
¹ Conversa, tradução literal do Latim.
² A fumaça sem fogo, tradução literal do Latim.
³ Explosão de voz, tradução literal do Latim.
*Referência bibliográfica desse parágrafo: Pare de acreditar no Governo — Bruno Garschagen.