Voluntariado com a ONG Amigos de Minas

Boa noite confrades, aproveitando esse assunto, esse final de semana passei por uma experiência que com certeza foi a mais incrível e transformadora da minha vida.

Eu sempre ajudei algumas causas de forma mais passiva, com cestas básicas, doações, mas ser participar de forma ativa, então de uns tempos pra cá, acompanhando as viagens moçambicanas do presuntinho, alguns podcasts do café brasil, fui sentindo que faltava algo, aquela necessidade de fazer algo a mais, enfim, comecei a pesquisar, encontrei algumas ONGs, e entrei em contato com a ONG Amigos de Minas de BH, eles me adicionaram no grupo do zap e esse final de semana fui para minha primeira missão com eles, 65 voluntários num ônibus, 1 carreta com toneladas de doações (cestas básicas, roupas, brinquedos, chinelos, colchões, etc.) rumo ao norte de minas, na cidade São João das Missões, a quase 13 horas de BH, na divisa com a Bahia, visitar aldeias indígenas, distribuir além de alimentos, amor, esperança e principalmente um pouco de dignidade.

A história da ONG é muito emocionante, em 2001, o Sr Idair estava trabalhando e os dois filhos pequenos estavam na casa da sogra, então um motorista alcoolizado atropelou eles na calçada, o Heitor então com 6 anos ficou na UTI quase um mês e acabou morrendo. Aquilo acabou com a família, passado uns dias a família descobriu que tinha direito a um seguro/indenização que na época era o equivalente a 35 mil reais. O Sr Idair não via sentido em usar esse dinheiro vindo de uma fatalidade para comprar algo material, então viu na TV uma notícia de uma senhora que morreu de fome no vale do Jequitinhonha, região muito pobre de MG. Teve a ideia de comprar cestas básicas com esse dinheiro, juntou uns amigos no caminhão, identificaram as cidades com menor índice de desenvolvimento de MG e partiram para distribuir as cestas, então começaram a fazer isso todos os anos, a coisa foi crescendo, crescendo, cada vez mais gente ajudando, e hoje contam com uma galera da pesada, as viagens ocorrem a cada 3 meses, normalmente são atendidas 3 cidades por vez (vão 3 carretas e 3 ônibus de voluntários), além disso eles trazem pessoas doentes de lá para BH para realizarem tratamentos/cirurgias, tudo de forma voluntaria. Em 2018 pretendem construir uma sede própria, com escolas que atenderão crianças em situações de risco, enfim, não sei onde isso vai chegar, mas com certeza vai longe.

Sobre a missão, saímos de BH sexta à noite, chegamos sábado de manhã, lá as doações são descarregadas num galpão, onde são distribuídas em caminhonetes menores com grupos de 5 a 15 voluntários, que rodam nas aldeias fazendo as distribuições, no sábado e domingo fazemos o trabalho, retornando no domingo à noite, chegando em BH na segunda de manhã. Teve uma turma que foi do interior de SP, a 1200 Km e 20 horas de viagem, tinha uma turma de Brasília, presenciei algumas coisas que jamais imaginei viver na minha vida, miséria total, casas de barro, sem vaso sanitário, energia, esgoto, agua tratada, altos índices de estupro, leishmaniose, adolescentes gravidas, aids, suicídios, pessoas que nascem sem perspectiva e esperança de uma vida melhor, e por ai vai, a missão nos leva ao limite físico, mas principalmente psicológico, não tem como ficar indiferente ao que vemos lá, um tremendo choque de realidade, revemos nossos valores, percebemos que na verdade não temos problema nenhum, o quanto reclamamos de barriga cheia, voltamos transformados, ver aquelas crianças sorrirem no meio do caos nos faz acreditar num mundo melhor. Conheci pessoas incríveis, engajadas em fazer o bem.

Quem puder participar de algo assim, não há nada mais gratificante. Em março estarei lá novamente com certeza.

Na semana da viagem, viramos noites montando as cestas básicas e carregando os caminhões. Quase 60 pessoas ajudando, sem reclamar, se divertindo, foi muito bom, e a recompensa ao final do trabalho valeu cada gota de suor derramada.

Ainda estou absorvendo as coisas, me recuperando do choque, algumas coisas me marcaram bastante:

Primeiro numa das paradas do caminhão, alguns voluntários desciam e iam até as casas para entender as necessidades, quantas pessoas residem ali, qual a renda, se estão trabalhando, se as crianças estão estudando, e ali definíamos o que deixar naquela casa. Passamos por uma casa aparentemente sem ninguém, toda fechada, chamamos e partimos pra próxima, mas algo chamou a atenção e dois voluntários insistiram em ir até a casa, ouviram uma voz e entraram, me chamaram pra ver o que seria o momento mais emocionante, havia uma senhora lá dentro, dona Elvira, 75 anos, muito magra, mãos atrofiadas, no máximo 40kg, não tinha condições de sair da cama, e não enxergava, ficamos pouco mais de 30 minutos conversando com ela, ao final haviam mais de 15 pessoas dentro de casa, muita emoção, imaginar o que é a vida daquela pessoa, sozinha, silencio, sem ver o mundo, esperando praticamente a morte chegar, conseguimos arrancar um sorriso dela, isso já valeu a missão.

Outro fato foi sobre a campanha de apadrinhamento, em setembro o pessoal que foi pra lá, tirou fotos com algumas pessoas (a maioria crianças), segurando uma lousa onde estava escrito o nome, a idade e o que gostaria de ganhar de natal, um rapaz pediu uma cadeira de rodas (mesmo podendo escolher qualquer coisa), então conseguimos a cadeira de rodas e o pessoal filmou a entrega, vou tentar postar aqui, a reação dele não tem preço.

E por fim, a grande maioria das famílias vivem em total miséria, e tivemos duas situações em que estávamos nas casas conversando e entendendo a situação, e as pessoas dizem que apesar de toda a dificuldade, preferiam que não deixássemos nada naquele momento, pois tinham consciência de que outras famílias precisavam mais. Aquilo vem como um puta soco no estômago (estou com o suor hetero escorrendo pelos olhos só de lembrar da situação)

No final juntamos todo mundo na praça da cidade para fazer uma oração antes de entrar no ônibus, aí o padre da cidade se juntou a nós e deu um discurso emocionante, que nossa ONG são as únicas pessoas que se preocupam com aquele povo, para nunca abandonarmos esse trabalho, e que esse trabalho quase que determina diretamente quem sobreviverá naquelas aldeias. Não é fácil. O mais interessante é que já estou ansioso para a próxima missão. A confraria com certeza tem papel muito importante na minha vida também, com todos os aprendizados, reflexões. Quem sabe ano que vem consigo levar alguns confrades juntos nesta missão. Quem sabe algum pastor de Cerquilho.

O Sr Idair daria um excelente Lidercast, o cara transborda amor ao próximo e valores.

Obrigado Luciano e Pastor Ronny por me inspirar a cada dia

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